quarta-feira, 15 de abril de 2009

“E O RIO LEVOU...”


Monique Lima

ESCRITOR DENUNCIA EM LIVRO AS CONDIÇÕES DE EXCLUSÃO SOCIAL QUE MORADORES NO PARANÁ ESTÃO VIVENDO

Livro retratará histórias de pescadores do Rio Paraná que foram jogados na marginalidade devido às Usinas Hidrelétricas e Unidades de Conservação

Atualmente, a preservação ambiental é um dos temas preocupantes da sociedade. O desenvolvimento urbano-industrial vêm, cada vez mais, atingindo o meio ambiente, prejudicando, plantas, animais e os seres humanos.
Colocando em pauta, os impactos ambientais, o doutor em Ciências ambientais, Adriano Violante, lançará este mês, o livro “E o rio levou....”. Fruto de sua tese de doutorado, o livro retrata a difícil vida de uma comunidade de pescadores que residem em Porto Rico, a 220 km norte de Guaira.
O sustento desses moradores, segundo Violante, está ameaçado pelas alterações ambientais causados pelas usinas hidrelétricas e pelas unidades de conservação que os impedem de plantar, criar animais e até mesmo de reformar e aumentar a própria residência. Os peixes nobres como o dourado e o surubim, que antes eram abundantes hoje são raros. Quando do fechamento das comportas de Itaipu em 1982, criou-se um obstáculo artificial impedindo os peixes de subir o rio, o que só foi solucionado parcialmente em 2002 com o Canal da Piracema; e destruiu um obstáculo natural (Sete Quedas) propiciando a subida de peixes que antes não tinham acesso à montante de Sete quedas como algumas espécies de piranha. Estas alterações ambientais fizeram com que o pescador perdesse parte substancial de sua renda.
Para complicar, como estão em uma área rica em diversidade animal e vegetal, o poder público criou três unidades de conservação, uma dentro da outra, o que os impede de criar animais, plantar para seu sustento e melhorar suas casas por exemplo.
Violante esclarece que não existe solução para o problema, pois o país necessita de energia para crescer e quer conservar o meio ambiente o máximo possível. “Para não dizer para estes fortes, honrados e honestos habitantes “que se explodam”, o ideal seria indenizar esses moradores, mas não se sabe bem em que categoria posicioná-los, pois não perderam suas terras devido aos lagos das barragens, são atingidos e prejudicados pelo que se chama de externalidades decorrente do progresso”, ressalta.
Devido à falta de sustento, muitos moradores foram para outras cidades, em busca de melhores condições de vida e trabalho. Pelos dados apontados no livro, em 1970, havia 6.192 moradores, e em 2006, foi registrado um número de 2.136, ou seja, uma queda de 4.000 mil habitantes, resultando num dos maiores êxodos do Paraná.
O autor do livro destaca que antes das construções das usinas, Porto Rico era um paraíso, uma cidade com muita fartura agrícola e piscícola. “Era normal os moradores se referirem a quartos cheios de arroz, feijão e milho. Com o sucesso das lides agrícolas veio o sucesso da criação de porcos e galinhas. As alterações ambientais causadas pelo homem mataram essa região”, alerta.
Apesar de parte do problema ser ocasionado pelas geradoras de energia, Violante ressalta que a situação degradante não é culpa das usinas, mas sim, um problema da união. “É a forma com que manejam a geração de energia. Como a necessidade de energia no país é maior durante o dia, a geração ocorre neste período. À noite parte das comportas são fechadas, causando o sobe e desce do rio a jusantes das barragens, originando a queda dos barrancos, a falta de incentivo a desova dos peixes e o assoreamento do rio Paraná. A criação de usinas é uma consequência, necessitamos de energia, muitos acreditam que é uma decorrência de Itaipu, e não é”, diz. Esta hidrelétrica está a 500 km de distância da cidade de Porto Rico.
Adriano Violante tem por objetivo divulgar a situação de abandono destes moradores. "Para desenvolver o país não devemos matar parte da população. Dessa forma, parte dos moradores vão apoiar os Sem Terra e engrossar o Movimentos dos Atingidos por Barragens. Gostaria que as pessoas conhecessem essa história, principalmente os acadêmicos da área, nossos futuros pesquisadores”, diz. Outro fator que o autor busca, é divulgar as pesquisas e o trabalho do profissional ambiental. O livro será lançado neste mês, com local e data a ser definido.

História
Adriano Violante é doutor em Ciências Ambientais, Mestre em Educação Ambiental – ambas cursadas na UEM, Maringá. Graduado em Gestão de Sistemas pela Universidade Nova de Lisboa - Portugal e em Oceanologia. Atualmente desenvolve trabalhos com Desenvolvimento Regional e Responsabilidade Sócio Ambiental.
Violante mora em Foz do Iguaçu desde 1975, quando o pai, Mário Violante veio para a cidade e começou a trabalhar em Itaipu.

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